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Resenha » Damon Albarn - Everyday Robots (2014)

É meio surpreendente pensar em um músico como Damon Albarn e perceber que só agora ele se enveredou na carreira solo. Considerado um dos ícones do britpop, Damon sempre se manteve ocupado em todo o trajeto do Blur comprovando seu talento tido como nonsense e agregando novas experiências no cobiçado projeto eletrônico Gorillaz, assumindo o personagem virtual 2D. Damon é uma espécie de embrião musical que na ânsia de gerar novas músicas deu vida a supergrupos como The Good, The Bad & The Queen, reunindo membros do The Clash, The Verve e Fela Cuti além de criar a banda Rocket Juice And The Moon com Flea (Red Hot Chili Peppers) e Tony Allen (Fela Cuti) funcionando como verdadeiros passatempos para fugir da inatividade do Blur e do Gorillaz, por exemplo.

A reunião do Blur e o vários shows em 2013 parecia promissor diante da perspectiva de um novo trabalho do grupo depois de quase 11 anos desde o último disco lançado, "Think Tank" (2003). Mas só parecia, afinal, Damon olhava para si com olhos mais atentos, dedicados a enxergar um percurso solo onde ele pudesse registrar suas experiências sem a demanda de fazer um novo disco do Blur ou do Gorillaz para se manter aceso. Os holofotes por si só caem sobre ele diante de todas as suas produções musicais e um disco solo a essa altura faria com que a luz fosse mais intensa iluminando o cantor que agora aspira ares mais solitário.

"Everyday Robots" era talvez o disco mais aguardado de 2014 dada as devidas qualificações do seu autor que sempre procurou ser livre para encontrar novos ritmos e notas que fugissem do espelho dos trabalhos anteriores. Quanto a isso Damon sempre foi inquieto e nunca trabalhou em cima de um modelo estabelecido que regesse sua música e o primeiro single do disco, Everyday Robots, evoca um músico experimentalista galgando em notas fantasmagóricas para definir a rotina das pessoas como "We are everyday robots on our phones In the process of getting home."


Damon segue seu rumo cantarolando a introvertida Hostiles dando pinta de um cantor mais reservado poupando sua energia. Lonely Press Play surge como um complemento dessa introspecção na canção anterior com um arranjo refinado e uma letra que recomenda apertarmos o play quando estivermos sozinho. Ausente de perturbação, Damon parece editar suas melodias com cautela para que elas expressem a integridade do seus sentimentos em canções sinceras como Hostiles e Lonely Press Play. Encontrar um motivo de alegria que nos faça lembrar o lado otimista do cantor é a missão que Mr. Tembo carrega com um teor pop assertivo embalando o refrão pegajoso "...Mr. Tembo's on his way Up the hill, With only this song, To tell you how he feels" que circula na nossa cabeça facilmente.

O prelúdio Parakeet anuncia a parceria entre Damon e Natasha Khan (Bat For Lashes) na faixa The Selfish Giant com um segmento eletrônico cheio de efeitos e um piano que dita um ritmo elegante para a melancolia de um cantor acostumado a esbravejar suas emoções. A participação de Natasha na música é singela, mas o suficiente para acalentar a entorpecida voz de Damon em seu sossego que parece não ter fim e ganha um novo convidado, Brian Eno, na faixa You & Me. Damon não pretende alcançar níveis tão altos quanto o Blur, nem arrisca, e nessa parte do disco o que mais importa pra ele é transparecer um semblante compenetrado de um músico que permanece sentado o tempo todo para reger suas músicas como na bela Hollow Ponds e na intimista Photographs (You Are Taking Now).

Damon Albarn não quer incomodar e ao invés de inserir o som pegado no conjunto guitarra, baixo e bateria, os arranjos mais delicados com piano, violão e algumas notas eletrônicas fazem companhia ao cantor em músicas como Seven High e The History Of a Cheating Heart. Essa sequência de músicas soa como uma libertação, o despertar do seu lado comportado figurando um perfil à parte do que já foi em seus projetos. Para finalizar o disco, Damon vem acompanhado novamente de Brian Eno e um coral para cantar em Heavy Seas Of Love com um jeito mais descontraído num refrão simples mas que ecoa com força na música.

"Everyday Robots" é um momento exclusivo do cantor que cumpriu sua missão de fazer um disco sincero que fosse coerente a sua madureza, sustentando linhas melancólicas com picos de entusiasmo para não esmorecer, mas que nos deixa saudosos do contagiante som do Blur e do divertido Gorillaz.

Nota: 7,5 

 

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